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A vida de um surdo

“Por vezes, pessoas me perguntam “como é a vida de um surdo”? A questão é complexa e não possui uma única resposta, dada a diversidade de situações que vivenciamos no dia a dia. Primeiramente, é importante mencionar que a percepção de uma pessoa portadora de deficiência auditiva difere das que não possuem o problema. Por que? Porquê a janela para qual o surdo, enxerga, ouve e interpreta sua própria vida situa-se justamente na visão. Dificilmente um surdo deixa de perceber as mais sutis mudanças no ambiente em que ele está. Dificilmente também, deixará de perceber as mudanças faciais de seu interlocutor, gestos, tiques, enfim,quase nada passa despercebido de uma pessoa deficiente auditiva. Percebam ainda que nenhum deficiente é objeto de zombaria. Nenhum, menos o surdo. Numa conversa, riem de nós, pois por vezes falamos coisas desconexas que nada tem a ver com o que está sendo discutido. Noutro diapasão, a vida do surdo por vezes pode ser traduzida como um imenso silêncio, um grande vácuo, uma grande exclusão. Não há estudos conclusivos, mas a taxa de abandono escolar relacionada a deficiência auditiva deve ser assustadora. A equação é simples: Se o sujeito não entende, então ele não se interessa. Não se interessando, não se sente estimulado em buscar respostas, até porque não tem as perguntas, pois não a entendeu, ou não a ouviu. Nossa deficiência, díspar das demais, pois quando falamos deficiente físico, logo nos vêm a mente a imagem de uma pessoa com a falta de um membro, ou cadeirante, de maneira que ” todos percebem num simples olhar a deficiência, uma vez que ela está ali, facilmente perceptível”. Todavia, nós surdos passamos praticamente despercebidos aos olhos do mundo, razão pela qual somos quase sempre ignorados. De tão ignorados que somos, pasmem, a Legislação brasileira que prevê dentre outras coisas a concessão de benefícios fiscais aos portadores de deficiências em geral, como forma de promover sua inclusão social. Porém, esta mesma legislação praticamente feita para Inglês ver não nos brinda com tais benefícios. Por que somos discriminados dentro de nossa própria deficiência? A Lei não é igual para todos? Ou nós surdos não somos sujeitos de Direitos por não termos nos feito ouvir perante ao Legislador Pátrio quando no ato da aprovação da Lei que concedeu os benefícios aos deficientes de uma maneira geral?

Não, não queremos piedade, esmola ou olhares piedosos. Queremos sim, respeito e sermos tratados como sujeitos de Direitos, pois acima de tudo os possuímos.”
Luighi de Job
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Cérebro depende da visão para ouvir

“Já se pegou fechando os olhos para prestar atenção em uma música? Ouviu toda aquela conversa do seu pai ou mãe enquanto estava no computador, mas não absorveu nada até olhar para os seus progenitores? De acordo com um estudo de bioengenheiros da Universidade de Utah, EUA, o que você vê pode ser mais relevante do que você ouve, em certas condições.

Elliot Smith, primeiro autor do estudo, escreveu o seguinte:

“Pela primeira vez, conseguimos ligar o sinal auditivo no cérebro ao que uma pessoa disse que ouviu, quando na verdade, o que ela ouviu era algo diferente. Descobrimos que a visão está influenciando a parte auditiva do cérebro para distorcer a percepção de realidade – e você não pode desligar a ilusão. As pessoas acham que existe essa forte ligação entre fenômenos físicos no mundo à nossa volta e o que experimentamos subjetivamente, e este não é o caso.”

O estudo parte do princípio chamado Efeito McGurk (nomeado pelo psicólogo cognitivo escocês Harry McGurk, que divulgou seus estudos nos anos 70), que afirma que o cérebro considera tanto a visão quanto o som ao processar a fala. No entanto, caso os dois sejam levemente diferentes, a visão domina o som. Graças ao novo estudo, é possível determinar por que isso acontece — o grande mistério do Efeito McGurk até então.

A pesquisa envolveu a busca pela fonte do efeito, e foi executada com a gravação e análise dos sinais cerebrais no córtex temporal, a região que normalmente processa o som. Com quatro adultos severamente epiléticos (dois homens, duas mulheres), três eletrodos do tamanho de botões foram posicionados em diferentes posições nos cérebros das cobaias: no hemisfério esquerdo, direito, ou em ambos, dependendo de onde as convulsões aparentemente surgem.

O estudo seguia com as quatro cobaias assistindo e prestando atenção em vídeos focados na boca de uma pessoa, enquanto pronunciavam as sílabas “ba”, “va”, “ga” e “tha”. Dependendo de qual dos três vídeos era assistido, cada um dos pacientes tinha uma das três possíveis experiências:

1. O movimento da boca combinava com o som. Ao ouvir um “ba” e ver que este era o som, os pacientes ouviram e viram “ba”.

2. O movimento da boca obviamente não combinava com o som (como num filme mal dublado). Ao ver um filme mostrar um “ga”, os pacientes ouviam “tha”. Devido à óbvia diferença, eles perceberam a desconexão e ouviram corretamente o “tha”.

3. O movimento da boca era feito erroneamente, mas muito de leve. Ao ver um “ba”, mas ouvir um “va”, os pacientes interpretaram o som correto como “ba”.

Medindo os estímulos elétricos durante a exibição de cada vídeo, foi possível definir se os sinais cerebrais auditivos ou visuais é que estavam sendo usados para identificar a sílaba em cada vídeo. Quando o erro era claro, a atividade cerebral aumentava em correlação com o som observado. Mas ao assistir o terceiro vídeo, o padrão mudou para se aproximar mais do que foi visto do que ouvido. As análises estatísticas confirmaram o efeito em todos os pacientes.

Toda essa pesquisa pode ajudar outros pesquisadores a compreender o que de fato ajuda no processo de linguagem de humanos, especialmente em pequenas crianças tentando anexar sons e o movimento labial para aprender sua própria língua. Ainda por cima, pode ajudar quando o processo visual e o auditivo não são integrados corretamente, como no caso da dislexia.

Por fim, este estudo pode ajudar na criação de melhores softwares de reconhecimento de fala, além de aparelhos auditivos, bastando a inclusão de uma câmera que identifique os movimentos labiais.”

Por Alexandre Ottoni & Deive Pazos
Fonte: http://noticias.discoverybrasil.uol.com.br/cerebro-depende-visao-ouvir/

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01 de Outubro

Hoje, dia 01 de Outubro, é o dia mundial da música. Você sabia que existe música para surdos? Pode parecer estranho, mas existe.

Um grande exemplo disso é o rapper finlandês Marko Vuoriheimo, mais conhecido como Signmark. Em suas letras, Signmark canta sobre as dificuldades que enfrenta no dia a dia por ser surdo, fala sobre amizades e de dar a volta por cima.

E já ouviu falar em balada para surdos? Também existe! O Sencity começou na Holanda, é um evento multissensorial que instiga as sensações de ouvintes e não-ouvintes através da música, dos efeitos visuais, do paladar e conta com um piso sensorial que vibra de acordo com a música.

O Sencity também acontece aqui no Brasil, ela é feita no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo). O Sencity desse ano já passou, mas fiquem ligados que ano que vem tem mais!

Mais informações: http://www.mam.org.br/sencity-no-mam/

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Setembro Azul

Neste site estão publicados muitos dos eventos que acontecerão  neste mês  em comemoração ao Setembro Azul. O Setembro Azul tem o intuito de divulgar as conquistas sociais e políticas, a cultura, a identidade e o fortalecimento da comunidade surda brasileira. Por isso pode e deve ser  entendido como o marco fundamental no que diz respeito à mobilização nacional  na defesa das escolas bilíngüe para surdos e na conquista de espaço e visibilidade sociais, combatendo a ignorância comum sobre a diversidade cultural e produções artísticas da comunidade surda. Entre saraus, oficinas, festas, atividades em aparelhos culturais da cidade, etc.

Visite o site e confira as programações.

http://asspcultura.wix.com/setembro-azul

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Deficiência Auditiva

A deficiência é definida como a “restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. Convenção Interamericana para eliminação de todas as formas de discriminação contra a pessoa portadora de deficiência – Convenção de Guatemala, promulgada pelo Decreto 3956/01

O deficiente auditivo é aquele que apresenta restrição sensorial auditiva. O déficit auditivo pode ser definido como perda média em decibéis, na zona da fala (freqüência de 500 – 1.000 – 2.000 hertz) para o melhor ouvido. Existem outros termos corretos: surdo, surdo-cego.

Segundo o IBGE (ano 2000), cerca de 16% da população brasileira (25 milhões) possuem alguma deficiência seja ela física, mental, sensorial auditiva, sensorial visual ou múltiplas deficiências. No Brasil, estima-se que existam 5,7 milhões de pessoas surdas.url1Existem alguns tipos de perdas auditivas, elas podem ser unilaterais ou bilaterais (ouvidos) e podem ser de causas condutivas, neurossensorial, mista ou central.url6Podemos também separar a causa pelo momento que ocorreu, ela pode ser congênita (pré-natal, natal) ou adquirida (pós-natal), ela também pode ser hereditária ou não, o sistema seja ele condutivo, neurossensorial ou central, e podemos definir o grau de deficiência auditiva.url8A pessoa pode apresentar surdez parcial (perda auditiva leve a moderada) ou total (perda auditiva severa a profunda), pode ter sido afetado pré-linguístico (não há conhecimento de fala) ou pode ser pós-linguístico.

Para a deficiência auditiva congênita, as causas pré-natais podem ser: genéticas/hereditariedade; viroses maternas (rubéola, sarampo); doenças infecto-contagiosas da gestante (sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose); eritoblastose fetal; ingestão de medicamentos ototóxicos durante a gravidez, drogas, alcoolismo, desnutrição e/ou exposição à radiação. E as causas peri-natais podem ser: pré-maturidade, pós-maturidade, anoxia e/ou infecção hospitalar.

Para a deficiência auditiva tardia (adquirida), as causas podem ser: predisposição genética (Otosclerose, Doença de Meniére), meningite, sífilis, sarampo, caxumba, viroses, ingestão de remédios ototóxicos, PAIR – Perda Auditiva Induzida por Ruído (gradual ou súbita) ou presbiacusia.

Muitos surdos utilizam-se do aparelho de amplificação sonora individual (AASI). O uso sistemático do aparelho de amplificação sonora individual é muito importante, mas não é suficiente colocá-lo na criança para que ela passe a ouvir. Por isso, se faz necessário um trabalho de estimulação, primeiramente, para que a criança aprenda a reconhecer (via aparelho) os ruídos e os sons ambientais da vida cotidiana, para chegar, em um segundo momento, por meio de um trabalho mais específico e demorado, a reconhecer também os sons da fala, proporcionando uma compreensão muito melhor no momento do diálogo e da conversa rotineira.

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“ Minha surdez ficou mais difícil de perceber porque desde o princípio meus olhos inconscientemente haviam começado a traduzir o movimento em som. Minha mãe passava grande parte do dia ao meu lado e eu entendia tudo o que ela dizia. Por que não? Sem saber eu vinha lendo seus lábios a vida inteira. Quando ela falava eu parecia ouvir a sua voz. Foi uma ilusão que persistiu mesmo depois de eu ficar sabendo que era uma ilusão. Meu pai, meu primo, todas as pessoas que eu conhecia conservaram vozes fantasmagóricas. Só me dei conta que eram imaginárias, projeção do hábito e da memória, depois de sair do hospital. Um dia eu estava conversando com o meu primo, e ele em um momento de inspiração, cobriu a boca enquanto falava. Silêncio! De uma vez por todas compreendi que quando não podia ver e não conseguia escutar.” David Wright (In: Oliver Sacks, Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos, 2010)

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Surdez nas telonas!

A surdez é um tema que já foi retratado em diversas obras no cinema e na televisão. Muitas histórias sobre personagens surdos foram criadas, algumas vezes histórias reais abordadas. Filmes de drama, ação e até comédia tem em seu tema ou determinados personagens a cultura surda representada. 

Filhos do Silêncio, filme de 1986, foi um dos mais bem sucedidos em abordar a cultura surda. Indicado a quatro categorias do Oscar e ganhando uma delas, o filme retrata James (William Hurt) que é um professor de linguagem para surdos que gosta de usar métodos pouco convencionais. Numa escola para surdos onde vai trabalhar, ele conhece Sarah (Marlee Matlin), uma mulher triste e fechada que continua frequentando o lugar apesar de já ter se formado. James tenta se aproximar da jovem e descobre seu medo do mundo. Ao mesmo tempo em que tentam se comunicar e se ajudar, eles se apaixonam.

Outro filme sobre o tema é Minha Amada Imortal. O filme é inspirado em uma carta redigida por Ludwig Von Beethoven a uma amada desconhecida. Beethoven (Gary Oldman) morre e um grande amigo do compositor, Anton Felix Schindler (Jeroen Krabbé), decide cumprir o último desejo do maestro, que deixava em testamento tudo para a “Amada Imortal”, sem especificar o nome desta mulher. Assim  o amigo empreende uma jornada tentando encontrá-la. O filme aborda fatos da vida de Beethoven e mostra a evolução da sua surdez, que impediu ele de ouvir alguma de suas próprias imortais composições.

 

Não só de dramas o tema surdez é abordado. No filme Cegos, Surdos E Loucos, dois amigos, um surdo e o outro cego, são as únicas testemunhas de um assassinato. Enquanto a polícia acha que eles são os principais suspeitos, os verdadeiros assassinos passam a persegui-los. Grandes atores como Gene Wilder (o amigo surdo) e Kevin Spacey participam desta comédia.

Estas são algumas dicas, voltaremos a indicar alguns outros títulos. Aproveitem!

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A escola regular e a surdez.

Existem, segundo Skliar (1997), duas formas de entender a surdez: a clínico-terapêutica e a sócio-antropológica. A primeira visão enxerga a surdez como deficiência e destina ao surdo um tratamento no qual ele se adaptará a comunidade ouvinte aprendendo a falar e a ouvir através de aparelhos. A segunda visão, por outro lado, enxerga o surdo como tendo um acesso diferente ao mundo, sendo ele, portanto, diferente do ouvinte e devendo desenvolver suas habilidades através da linguagem visual-gestual. Uma primeira questão para falarmos a respeito da inclusão de surdos nas escolas regulares é entender qual visão a escola tem atualmente da surdez.

Segundo o estudo realizado em Campinas, SP em 1998 (SILVA; PEREIRA, 2003) a escola regular tem claramente uma concepção clínico-terapêutica da surdez, onde o aluno surdo que deve adaptar-se a realidade dos ouvintes e não o contrário. Nas escolas estudadas as professoras concediam aos alunos surdos uma atenção (ou desatenção) especial, diferenciando-os dos demais alunos e tratando-os como alunos de aprendizagem mais dificultosa, isso apesar de se referirem a eles como alunos inteligentes. O despreparo de professores e da própria escola pode ser o motivo desse tratamento que subestima a capacidade dos alunos surdos em relação aos demais alunos.

A oferta da LIBRAS em escolas inclusivas é indispensável para a aprendizagem do aluno surdo. A linguagem de sinais é a principal ferramenta de acesso à aprendizagem pelo surdo e seu uso é indispensável, porém o observado nas escolas é um domínio parcial (quando existe) dos profissionais da educação.

Nos últimos anos o Brasil obteve avanços consideráveis na educação de surdos. Como, por exemplo, leis que obrigam a inclusão de LIBRAS na grade curricular das licenciaturas. No texto de LACERDA; ALBRES;DRAGO, 2013 podemos ver que:

As comunidades surdas no Brasil, aliadas a pesquisadores atentos às necessidades de aquisição e desenvolvimento de linguagem das pessoas surdas, passaram a debater a importância de se ofertar uma educação em uma perspectiva bilíngue para surdos. As duas últimas décadas foram importantes para uma melhor compreensão das necessidades educacionais de alunos surdos e para o avanço de políticas públicas nessa direção. Assim, como resultado de debates, pressões e reivindicações da comunidade surda e acadêmica, emerge uma nova legislação federal – Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002), e Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005) –, o que é importante para nortear o atendimento escolar do aluno surdo com atenção a aspectos da abordagem bilíngue.

Apesar de problemática ainda, a inclusão de alunos surdos nas escolas regulares tem crescido em qualidade no Brasil. A maior dificuldade, no entanto, é a escola não conseguir tratar o aluno surdo com a mesma capacidade de aprendizagem de um aluno ouvinte, porém com uma comunicação e linguagem diferenciada.

REFERÊNCIAS:

SILVA, Angélica B. P.; PEREIRA, Maria Cristina C. O Aluno Surdo na Escola Regular: Imagem e Ação do Professor. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Mai-Ago 2003, Vol. 19 n. 2, pp. 173-176

LACERDA, CBF; ALBRES, NA; DRAGO, SLS. Política para uma educação bilíngue e inclusiva a alunos surdos no município de São Paulo. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 1, p. 65-80, jan./mar. 2013.

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Dois Mundos

“Dois Mundos” é uma curta metragem feita por Thereza Jessouroun, traz depoimentos de surdos usuários de implantes cocleares sobre os diferentes universos pelos quais transitam, entre barulhos, músicas, sons de vento, pegadas, fogos de artifício e o silêncio.  Considero a curta metragem muito boa por mostrar a visão que cada um tem sobre o mundo, e também insere o espectador em uma interessante discussão.

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Introdução à Cultura Surda

“… pode-se dizer que a história dos surdos, sobretudo de sua educação, é marcada pelo etnocentrismo e pela tradição oralista, e que isso encobriu, por muito tempo, aspectos lingüísticos (e culturais) próprios à surdez, por serem considerados ‘desvios’.”

Por muito tempo o surdo foi visto de forma sub-humana. Aqui no blog, já foi relatado o quanto o surdo era tratado como alguém fora da sociedade. Eram impedidos de exercer posição social, inclusive não tinham direito, por exemplo, a herança. A partir da Idade Moderna, começa as primeiras mudanças, com as pioneiras tentativas de alfabetização. Depois, no século XIX, no primeiro congresso sobre o tema, ficou-se definido que a forma de comunicação do surdo deveria ser oral, através de terapias que estimulassem a fala. Mas, com o advento da língua americana de sinais, a comunicação do surdo deixou de ser deficitária.

E a partir de uma linguagem própria, formam-se culturas e identidades próprias, como em qualquer outra sociedade. Hoje já são muitos autores que acreditam nisso, classificando a Cultura Surda como uma cultura linguística pequena, que sofre com o desconhecimento e preconceitos.

Para entender a Cultura Surda, parte-se do pressuposto de que os surdos possuem uma forma diferente de vida, e não deficiente.

“A relação do Surdo com o mundo é perpassada por modos de socialização específicos, por hábitos e costumes fundados pela surdez, pela produção artística de fundamentação surda e até mesmo por hábitos lingüísticos que se posicionam na fronteira entre língua e cultura”.

Além da Cultura Surda, temas como Identidade Surda (reconhecer-se como surdo, o direito de ser surdo e de usar a língua de sinais) e o Movimento Surdo, que luta pelo reconhecimento de sua cultura, identidade e contra a presença hegemônica ouvinte.

O papel de formação da Cultura e Identidade Surda só foi possível, a partir do reconhecimento da filosofia bilíngue – que propõe que o surdo tem na verdade contato com duas línguas, quando aprende a língua de sinais mais a língua nativa de seu país. Quando se aceita uma língua, se aceita também a cultura que esta consigo possui.

A partir daí, forma-se na sociedade uma dicotomia – inclusive entre especialistas – de ver a Surdez como uma particularidade ou deficiência; responsável pela formação de uma língua própria, que dá origem a uma cultura e identidades também próprios, ou como uma patologia que necessita de uma correção e adequação a fim de buscar a equalização dos indivíduos portadores aos não portadores.

Estes temas dentro da Cultura Surda, Formação da Identidade Surda, luta do Movimento Surdo, diferenças dos membros dessa comunidade, quem são esses membros, diferenças de visões de especialistas sobre ela, entre outros, serão abordados neste blog.

Referência: MULTICULTURALISMO NOS DISCURSOS DA SURDEZ de Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível no link http://www.fflch.usp.br/dlcv/enil/pdf/41_Maria_Clara_MR.pdf

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